Com a criação de uma ferramenta voltada à tradução jurídica em Libras, a equipe Cabível Tech foi a vencedora do Hackathon de Engenharia de Prompts e Agentes Inteligentes da OAB Paraná, realizado neste fim de semana (6 e 7 de dezembro) na sede da seccional. A maratona reuniu profissionais do Direito, da tecnologia, do design e de outras áreas com o objetivo de desenvolver soluções inovadoras para o dia a dia da advocacia.
Ao longo de dois dias, as 30 equipes inscritas — das quais 21 participaram efetivamente, reunindo mais de 100 participantes — trabalharam na criação de sistemas baseados em inteligência artificial. O evento também contou com a atuação de mentores, equipes responsáveis pela auditoria técnica e jurados que avaliaram os projetos finais.
O coordenador do Laboratório de Inovação da OAB Paraná, Rhodrigo Deda, destacou que as soluções de viabilidade comprovada serão disponibilizadas em um repositório organizado pela Comissão de Inteligência Artificial. “É uma forma de aproximar a advocacia da tecnologia, garantindo que essas ferramentas estejam sempre a serviço da profissão”, afirmou.
O Hackathon foi organizado pelo Laboratório de Inovação, em conjunto com as Comissões de Inteligência Artificial, de Direito Digital e Proteção de Dados, e de Inovação, Gestão e Empreendedorismo, e com apoio da Escola Superior de Advocacia (ESA).
JULI: uma ponte entre Libras e o juridiquês
A primeira equipe colocada apresentou a JULI, uma ferramenta em desenvolvimento que propõe a tradução em Libras, treinada com vocabulário jurídico, para ser utilizada em audiências, balcões presenciais e virtuais, além de atendimentos entre advogados e clientes.
Utilizando câmera e captura de áudio, a JULI traduz a gesticulação em Libras para texto, e a fala para Libras por meio de um avatar, além de transcrever o conteúdo para o português. Seu diferencial está na capacidade de interpretar e adaptar o “juridiquês” sem comprometer a fidelidade do conteúdo, garantindo compreensão plena entre todos os envolvidos.
A ideia da equipe Cabível Tech surgiu diante da constatação de que o acesso à Justiça para pessoas surdas ou mudas ainda depende da disponibilidade de intérpretes capacitados — profissionais nem sempre presentes ou familiarizados com terminologias jurídicas. A JULI busca suprir essa lacuna, promovendo autonomia, acessibilidade e dignidade.
Apesar de ainda estar em aprimoramento, a equipe Cabível Tech já demonstrou a viabilidade técnica da solução. A próxima fase do projeto prevê suporte a outros idiomas, como o espanhol, para ampliar o acesso ao Judiciário também à população imigrante.
PLATYPUS: IA para organizar o caos documental
A equipe Platypus, que conquistou o segundo lugar do Hackathon, apresentou um SaaS jurídico baseado em IA voltado à análise de documentos extensos e processos volumosos — um desafio recorrente na rotina jurídica, especialmente diante de arquivos digitalizados ilegíveis e não pesquisáveis.
A solução utiliza técnicas avançadas de RAG, OCR e scripts em Python para realizar leitura inteligente, reorganização de dados e interação via chat. O objetivo é transformar o processamento documental, oferecendo agilidade, segurança e rastreabilidade sem perder de vista o papel indispensável da acurácia humana na validação das informações.
LEGAL: estratégia e revisão inteligente para a petição inicial trabalhista
O terceiro lugar ficou com a Legal-16. A equipe desenvolveu a ferramenta LEGAL, voltada à fase inicial dos processos trabalhistas, desde o primeiro atendimento ao cliente até a entrega da petição inicial.
A plataforma permite ao advogado fazer o upload do registro da consulta, a partir do qual o sistema gera um panorama estratégico do caso, com pontos fortes, riscos, linhas argumentativas e estimativas de valor da causa. Em seguida, após a elaboração da minuta, a ferramenta realiza uma revisão inteligente, conferindo coerência entre narrativa e provas, além de sugerir ajustes gramaticais e jurídicos.
Embora voltada inicialmente à área trabalhista, a equipe projeta expansão para outras áreas de grande volume.
Inovação e impacto social
Além das equipes premiadas, diversas propostas apresentadas destacaram-se pelo potencial de impacto social, incluindo soluções voltadas ao combate ao golpe do falso advogado, ao atendimento da população LGBTQIA+ e à triagem inteligente de demandas jurídicas.
Mentores e participantes ressaltaram o caráter interdisciplinar e inovador do evento. Para a advogada Priscila dos Reis Olivetti, “é preciso encontrar um equilíbrio entre ação humana, valores e leis”. Já o mentor Leonardo Donoso destacou que muitas propostas buscaram resolver não apenas questões jurídicas, mas também desafios sociais mais amplos.
Confira as informações do primeiro dia de evento aqui.













