Presidente da Seccional destaca papel dos advogados na história do Brasil

Artigo do presidente da OAB Paraná, Alberto de Paula Machado, em referência do Dia do Advogado, comemorado em 11 de agosto, ressalta o papel dos advogados na história do país. O texto foi publicado nesta terça-feira (11) por jornais paranaenses.

Leia o artigo na íntegra:

O Senado, os advogados e o seu papel na história

No dia 11 de agosto de 1827, por decreto do Imperador D Pedro I, foram criados os primeiros cursos de direito no Brasil. A data transformou-se no Dia do Advogado.

Na época, dávamos os primeiros passos como nação independente, em meio a uma crise financeira decorrente da queda na produção e exportação do açúcar e enfrentando uma batalha pela manutenção dos limites territoriais do país – a chamada Guerra Cisplatina.

No cenário político, vivíamos sob a regência de uma Constituição Federal recém-elaborada que instituía o chamado “poder moderador”, atribuindo poderes absolutistas ao imperador e conferindo-lhe o direito de veto sobre todas as matérias que julgasse convenientes.

O imperador, inviolável e sagrado, não estava sujeito a responsabilidade legal alguma. Detinha o poder de indicar e destituir senadores, funcionários, magistrados. A democracia apenas engatinhava. Para que o cidadão pudesse ter o direito de voto era necessário contar com 25 anos de idade e 100 mil réis de renda anual.

Daquela época até hoje foram mais seis constituições, várias crises institucionais, golpes militares, renúncias e até mesmo um impedimento presidencial decretado pelo parlamento. Os advogados já somam 700 mil. Vivemos o maior período democrático de toda a nossa história.

Desde a promulgação da nossa última Constituição decorreram 21 anos, sem qualquer ruptura das instituições políticas. O presidente de hoje não tem poderes absolutos. O poder judiciário é independente. Magistrados e servidores, regra geral, só ingressam no serviço público por concurso.

Apesar de reconhecermos avanços, é inegável que todos esses anos de história não foram suficientes para construirmos uma sociedade equilibrada e um estado eficiente. O Brasil ainda é um país de desigualdades, cuja população é composta majoritariamente por famílias de baixa renda. Para a imensa maioria dos brasileiros, ainda é uma utopia a ideia de hospitais em quantidade suficiente e escolas em período integral para todas as crianças.

Porém, dificilmente alcançaremos a condição idealizada para a nossa sociedade enquanto tivermos um parlamento que não funciona e um executivo que permite derrame de dinheiro em atividades inúteis. O parlamento, fundamental em qualquer democracia, em nosso país se revela como o exemplo mais gritante de desperdício do dinheiro público. O Senado Federal – que tem ocupado de forma grotesca o noticiário nas últimas semanas –, consome atualmente 2,7 bilhões de reais. Esse orçamento anual é superior ao de cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes.

Esse fabuloso orçamento é elevado para qualquer país do mundo. Seria absurdamente elevado mesmo que o Senado exercesse com eficiência suas atividades. A soma torna-se ainda mais revoltante ao considerarmos o cenário daquela casa legislativa, composta na sua maioria por parlamentares que não respeitam o mandato que receberam do povo e que indignamente usam a estrutura pública em benefício próprio. E essa realidade, para nosso infortúnio, não é diferente na Câmara dos Deputados ou outras casas legislativas.

O espetáculo circense a que assistimos nas últimas semanas, com ataques pessoais, dedos sujos em riste e muitos xingamentos, não chega a destoar no Senado. Os episódios lamentáveis que se sucedem provam que o “conjunto da obra” não merece reconhecimento.

Os advogados, que sempre desempenharam papel importante na nossa história e que foram fundamentais na abolição da escravatura, na proclamação da República e no combate ao autoritarismo, têm hoje o desafio de, junto com os demais cidadãos brasileiros, impedir que esse espetáculo do absurdo continue. É preciso lutar contra esse estado de coisas e resgatar a oportunidade de conquistarmos um país justo e equilibrado.

O dia do advogado é, portanto, um dia de reflexão sobre a importância da profissão não só para a realização da Justiça, nossa função primordial, mas também para retirar o nosso país da condição de uma “promessa para o futuro”. Um futuro promissor que nunca chega e que não chegará se nos mantivermos inertes.

Alberto de Paula Machado – Presidente da OAB Paraná

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