Confira na íntegra o texto da jornalista Ruth Bolognese, publicada na edição de domingo (30) no jornal Tribuna do Inteior, de Campo Mourão, sobre a campanha O Paraná que Queremos, iniciada pela OAB Paraná.
Paraná abre os olhos
O presidente da Assembléia Legislativa, Nelson Justus, e sua Mesa Diretora Amestrada podem até permanecer nos cargos em que estão, mas o desconforto aumenta a cada dia e a cada assinatura a mais no documento “O Paraná que Queremos”, da Ordem dos Advogados do Brasil, OAB/PR, que a Gazeta do Povo publica todos os dias. A “Gazeta do Povo” pode até estar extrapolando a função básica da Imprensa, o de informar, para assumir a condição de Anjo Vingador, mas não se limpa bem uma casa sem sujar um pouco as mãos, mesmo usando luvas de borracha.
Mais importante do que agüentar o cabelinho bem alisado do presidente Nelson Justus compondo a figura de ternos impecáveis e gestos nem tanto, é descobrir que os paranaenses entraram na onda nacional de exigir fichas limpas para políticos e candidatos. Basta ver a as assinaturas de pessoas jurídicas e físicas na “Gazeta” a exigir moralidade na Casa do Povo, algo impensável há bem poucos anos. Tanto empresas como cidadãos nascidos e vividos entre os pinheirais sempre evitaram a exposição pública em casos assim, mais por medo de represálias do que por usufruto da timidez imemorial. No fundo, no fundo, as gentes do Paraná preferem mesmo é que, se tiver que haver protestos, que sejam feitos pelos outros.
Só em casos muito graves, ou específicos, a nossa opinião pública sai da zona do conforto para as ruas. Foi assim na campanha para as Diretas Já, na longínqua década de 80, no episódio da venda da Copel, na distante década de 90 e agora, nas vergonhosas maracutaias da Assembléia Legislativa. Desta vez, a diferença está nas assinaturas, com RG e tudo. Aos poucos a as gentes dessas terras frias vão descobrindo que protestar por causas nobres não tira pedaço de ninguém. Se duvidar, faz bem pra pele e até esquenta.
El Bibinho
O relator do caso da permanência ou não na cadeia do ex-diretor da Assembléia, Abib Miguel, o desembargador José Maurício Pinto de Almeida, faz parte da turma mais arejada do Tribunal de Justiça do Paraná, sem os vínculos antigos, que descendem do falecido Aníbal Curi. Ele acatou os argumentos do Ministério Público Estadual sobre o poder de interferência de El Bibinho sobre as investigações, o que ficou provado logo nos primeiros dias da prisão. Foi justo, muito justo. Ora, se El Bibinho mandou e desmandou em 54 deputados durante tantos anos, a rede de influência é extensa e quase inabalável. E como diz o sempre mui lembrado por aqui, Guimarães Rosa, ingratidão é o pecado que o homem menos reconhece em si.
Fonte: Tribuna do Interior
