OAB Paraná inaugura exposição que faz parte do circuito da 14ª Bienal de Curitiba

Foi aberta nesta nesta sexta-feira (27), a mostra Fronteiras em Aberto, na sede da OAB Paraná, que integra a 14ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba. Durante a abertura do evento, a presidente da Comissão de Assuntos Culturais, Carmem Íris Nicolodi, agradeceu o apoio da OAB Paraná, do vice-presidente Aurelio Cancio Peluso, e de Maria Ângela de Novaes Marques, com quem ela divide a curadoria da exposição na sede da seccional. “Desde o início da gestão abraçaram a ideia e batalharam para mais uma vez realizar a uma exposição da bienal na sede da OAB”, disse.

Carmen também agradeceu os artistas que prontamente aceitaram participar da iniciativa. Participam da exposição: Alexandre Linhares e Thifany, António Franchini, Aurélio Peluso, Débora Ling, Luiz Gustavo Vardanega Vidal Pinto (VIDAL), Marcelo Conrado, Roberta Ling, Tânia Buchmann, e Hélio Dutra e Zig Koch.

Confira a íntegra da apresentação Mostra Bienal OAB-PR pelas curadoras:

Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba é integrada, em segunda vez, pela Mostra Bienal OAB-PR

A Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba é integrada, em segunda vez, pela Mostra Bienal OAB-PR. O tema “Fronteiras em Aberto” aponta o significativo deslocamento do conceito de fronteira para bordas extremas – muito além da tradição geográfica ou política -, tensionando o imaginário plural informado por aspectos da profunda complexidade do século XXI: tecnologias emergentes, crises humanitárias, riscos ambientais, desencaixes e reconfigurações de pertencimento sociopolíticos.

A curadoria da 14ª Bienal enfatiza a abertura do conceito semântico, pois “Agora já sabemos que há fronteiras reais e também invisíveis que se contradizem e estabelecem litígios nada pacíficos. Que a fronteira pode ser várias coisas ao mesmo tempo”, nutrindo interconexões que são matrizes de novas experiências de arte-fronteira.

Nos contornos das interconexões e interseções fronteiriças, a Mostra Bienal OAB-PR convida seus visitantes a realizar o salto no fazer artístico, tomando impulso na potência do olhar sensível que todo indivíduo traz consigo. Desde as aparentes diferenças temáticas das obras componentes da Mostra, emergem ricos diálogos em torno do contundente invisível-nosso-de-cada-dia. É a aventura da experiência do transbordamento, no dizer de Barthes, a partir de reflexões e alteridades.

Para Paul Klee “a arte não reproduz o visível, ela o torna visível”. No entanto, para comover o próprio olhar e acercar-se da arte, é necessária disposição, a atitude referida por Georg Simmel do aventureiro ousado que adentra à neblina e envereda “pelos caminhos que se abrem à sua frente, sem perguntar pelo trajeto”.

O percurso de fruição proposto pela Mostra Bienal OAB-PR articula as questões transversais inquietantes tanto aos campos das artes quanto do saber jurídico, sendo que a fotografia e possibilidades de composições constituem a principal plataforma selecionada.

A exposição mais extensa da Mostra é contribuição da tradição fotojornalística, formada por genuínos artistas-etnólogos, como Marc Ferre, Robert Capa, Henri Cartier-Bresson e Sebastião Salgado. Em estimulante representação dessa manifestação, Zig Koch suscita a um só tempo o tema da conservação das florestas de araucárias e o liame cultural arraigado, que rápido se desvanece. Não ao acaso, o edifício-sede da OAB-PR é ladeado por seis gigantescas araucárias, patrimônios paranaenses, que simbolicamente integram a Mostra.

Marcelo Conrado traz a arte conceitual (fotos-frases) por meio da qual se apropria e ressignifica outras obras, discutindo o conceito de autoria e anonimato: o que é original? Luiz Gustavo Vardanega Vidal Pinto (VIDAL) oferece recorte de momento fugaz e liberto, o salto de um rapaz ao Nhundiaquara. Aurélio Peluso retrata a sobriedade da fé, a devoção de romeiros conformada em cinquenta singelos monóculos, à maneira dos tradicionais fotógrafos de peregrinações. Sua aluna, a jovem Alessandra, com olhar atento, captura ângulos de uma Curitiba por que vários transitam sem jamais exergar. Roberta Ling ao mesclar biotipos humanos transgride, no moisaco múltiplo, a noção de identidade ou raça. António Franchini traz de Portugal a arte digital sobre tela, Dust to Dust, em mirada de impacto que integra a tradição azulejeira lusitana às grandiosidades seculares ambicionadas pelos que passaram além do Bojador. Tânia Buchmann, com Estados Unidos de Cuba evidencia a finitude inevitável dos símbolos da sociedade moderna, como são os automóveis americanos, em Cuba, e a sistemática demolição de construções urbanas para dar lugar a novos complexos. Hélio Dutra com a obra Templo de Kukulcán (Yucatán, México) dimensiona “a fronteira” entre o conhecido (o templo) e a interdição do “além da fronteira”, que sedimenta dúvidas perenes quanto à instalação do povo tolteca no local, ao avanço da astronomia e sua repercussão na arquitetura e na escolha do espaço geográfico, visto que o templo construído em pavimentos foi inserido entre quatro cenotes – ao norte, sul, leste e oeste. Débora Ling empreende viagens intercambiantes do olhar que projeta “além das fronteiras”, à busca da essência do humano. A artista espelha com os registros que, seja qual for a cultura, o credo, os medos, os signos sociais ou modelos gregários sociativos, há mínimas distinções de cromossomos entre toda a humanidade.

Expressão da temporalidade presente, que pulsa o século XXI e respectivos paradoxos, a Mostra Bienal OAB-PR multiplica a abertura do trajeto para alcançar a natureza artística da moda, concluindo a aventura dialógica em criação exclusiva desenvolvida por Alexandre Linhares e Thifany na obra que veste poesia e faz época.

Ao fim, na perspectiva de conferir visibilidade ao caráter diversificado das fronteiras artísticas abertas, a Mostra resgata anotações de Walter Benjamin (Arquivo, manuscrito 1096) sobre Focillon a respeito da obra de arte: “No instante em que nasce, ela é um fenômeno de ruptura. Há uma expressão corrente que nos faz sentir isso de forma viva: ‘fazer época’ não significa intervir passivamente na cronologia, mas precipitar o momento”.

Curitiba, Primavera de 2019.

Curadoras da Mostra

Carmem Íris Parellada Nicolodi, presidente da Comissão de Assuntos Culturais da OAB Paraná

Maria Ângela de Novaes Marques, membro consultora da Comissão de Assuntos Culturais da OAB Paraná