Advogadas falam do orgulho e dos desafios de combinar maternidade e trabalho

O dia das mães se aproxima e deixa espaço para lembrarmos dos sacrifícios das mulheres que combinam maternidade e advocacia. A conselheira federal Ana Cláudia Pirajá Bandeira tem dois filho: Cesar e Beatriz. Ela não esconde o orgulho de ter inspirado a filha a seguir seus passos profissionais. Beatriz já começou a escrever sua história no sistema OAB, tendo integrada, na subseção de Maringá, as comissões da Advocacia Iniciante e de Direito à Saúde. A conselheira relata as alegrias, mas também os esforços que fez para se dedicar à advocacia e, ao mesmo tempo, ser uma mãe presente. Ressalta também o aprendizado e força para lutar que são desencadeadas pela maternidade.

“Ser mãe é uma dádiva de Deus, é um sentimento forte que vem de dentro e que enche a alma de alegria. É saber amar sem pedir nada em troca, é saber perdoar, é saber cuidar, orientar, ouvir e ensinar. É um olhar atento. É estar presente, mesmo que esteja distante. É acalmar quando tudo parece difícil. É ajudar os filhos a andar com suas próprias pernas, pensamentos e sonhos. É sentir um orgulho imenso em cada conquista deles. É sentir saudades quando os filhos voam para longe. Ser mãe é fazer brotar dentro de si a mulher guerreira, forte e doce, que carrega o amor mais intenso para o resto da vida! Ser mãe da Beatriz e do Cesar me fez ser uma mulher mais forte, me fez entender o amor da minha mãe por mim. Me fez amar mais, lutar mais e me faz a cada dia mais feliz”, diz Ana Cláudia.

Movida a paixão

Desafios e sentimentos semelhantes foram vividos pela advogada Lúcia Maria Beloni Correa Dias, idealizadora do programa OAB Cidadania e atualmente atuando como corregedora-geral do Departamento Penitenciário (Depen), da Secretaria de Segurança Pública do Paraná. Lúcia é mãe de Steeve Beloni, presidente da Comissão de Direito Internacional da OAB Paraná.

“A minha experiência como mãe advogada sempre foi salutar, instigante e desafiadora. Trabalhar ao lado de jovens, ainda mais quando se trata do meu próprio filho, que foi até meu aluno na PUC-PR, é algo indescritível. Acho que foi positivo. Participei ativamente da formação acadêmica e depois profissional dele, como colega de escritório. Ainda posso dizer que sou a pessoa mais grata do mundo por ter tido essa oportunidade de presenciar e acompanhar toda a evolução profissional de meu filho”, afirmou.

Segundo Lúcia Beloni, a experiência como mãe advogada sempre foi um grande desafio, o qual devidamente encarado rendeu as principais alegrias que pôde experimentar em sua existência. “As dificuldades em conciliar a advocacia com a criação de meus dois filhos sempre foram imensas, contudo sempre as realizei com muita paixão mesmo trabalhando às vezes em jornadas pra lá de extenuantes. Mas a busca e o ideal de justiça sempre me motivaram a enfrentar qualquer adversidade, incluindo dentre as adversidades ser privado do convívio com minha família. Meu filho sempre viu todas essas dificuldades e mesmo assim decidiu seguir a nobre carreira de advogado, o que trouxe muito orgulho a mim e ao meu falecido marido Valdenir Dielle Dias, também advogado, que muito lutou pela realização da justiça. Além de ser meu filho, aluno, também se inspirou na minha atuação perante o órgão de classe”, destacou.

Senso de justiça

A advogada Daniela Ballão Ernlund, ex-conselheira estadual da OAB Paraná, compartilha dos sentimentos de Lúcia e Ana Cláudia. Ela conta que conciliar a carreira e a maternidade nunca foi fácil. “A profissão de advogada não tem carga horária e muito menos previsibilidade. Sempre tive hora para começar o meu dia, mas nunca tive hora para terminar. Porém, diversos foram os dias que precisei deixar meu trabalho para atender meus filhos. Eles adoecem. Eles precisam de você para realizar certas atividades. Eles têm apresentação na escola. Eles precisam da presença dos pais para que possam crescer e se desenvolver como seres humanos”, relata.

“Do mesmo modo, a sua profissão te exige presença, atenção, capacitação e trabalho. O cliente muitas vezes precisa de sua urgência. O trabalho planejado muitas vezes toma rumo imprevisível e que você precisa estar próxima para que as medidas necessárias sejam tomadas. Conciliar estes dois mundos sempre foi difícil! Muitas vezes, pensei que não daria conta e que estava fazendo tudo errado.  Mas persisti”, pontua Daniella.

“Nunca achei que esta vida corrida e cheio de atropelos pudesse ter algum significado na vida de meus filhos. Porém, hoje, após meus filhos terem se tornado adultos, percebi que despertei neles um sentido ainda maior: o senso de Justiça. Foi esse sentimento que me fazia acordar todos os dias e a me despedir deles. Foi esse sentimento que justificava, em meu íntimo, as minhas ausências e me proporcionava alegria pelos resultados gratificantes que obtive no trabalho. Eram as histórias de superação que fazia, especialmente o meu filho Felipe, hoje advogado , a parar para me escutar. Eram os debates e os argumentos que eu trazia para casa, que o fez o meu maior ouvinte. Realmente não sei se eu percebia esse interesse dele pela minha profissão. Muitas vezes, eu achava que sequer ele me entendia. Porém, hoje, com ele adulto, trabalhando ao meu lado, percebo que não só ele entendia, como também incorporou a grande missão da advocacia”, conclui.

Espera compensada

Rosângela Rodrigues dos Santos se tornou advogada em fevereiro, dois meses antes de completar 50 anos. Para ela, o desafio de combinar maternidade e advocacia veio muito depois de diversas outras barreiras. Apesar da graduação tardia, o sonho de ser advogada começou na infância. “Sonhava em trabalhar por justiça, mas só depois do divórcio e de criar três filhos é que pude ir para a faculdade”, relatou no dia em que prestou compromisso. A profissional teve, primeiro, de enfrentar as consequências da desigualdade social. Seu pai, hoje com 87 anos, criou sozinho os quatro filhos. “Sou a única a chegar à graduação”, orgulha-se ela.

Rosângela cursou Direito no UniDomBosco. Lá encontrou no corpo docente dois anjos da guarda dispostos a ajudá-la. Primeiro a professora Rucieli Maria Moreira Toniolo, atualmente reitora da instituição, mas que à época geria o setor de empregabilidade, abriu para ela a oportunidade de um estágio. Com o apoio do advogado e professor Marcelo Conrado, o estágio virou trabalho permanente. Rosângela também atua como mediadora nos fóruns e sonha em advogar na área de família. “É uma alegria, hoje, fazer parte da OAB”, afirma.