“Estamos todos em busca de repostas morais”, afirma jurista

“Queremos todos respostas morais, de torcedor. Podemos, como advogados, apenas emitir opiniões morais? Até podemos. Dá nisso que está aí. Promotores, juízes e advogados esquecendo a norma e expondo suas opiniões nas redes sociais”, alertou o jurista Lênio Streck na palestra de abertura da VI Conferência Estadual da Advocacia, proferida na noite desta quinta-feira (2/8) no Centro de Convenções da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Com bom humor e metáforas sarcásticas, o advogado manteve a plateia atenda à palestra “Quanto vale o advogado na equação da justiça?”

“Deveríamos todos ter um estagiário para nos lembrar a cada hora da Constituição”, afirmou depois de também usar a mitologia grega para dizer, arrancando aplausos e risos da plateia, que é milenar a tendência de formular juízo de valor deixando de lado as leis.

“Por que o juiz pode, nos autos, dizer ‘onde está escrito X leia-se Y’? Por que onde está escrito presunção da inocência o juiz pode dizer outra coisa? É uma jabuticaba, coisa que só ocorre no Brasil. Se o açougueiro, invocando seu conhecimento e tradição nos afirmasse que picanha é maminha refutaríamos veementemente. Por que aceitar isso do Judiciário?”, instigou.

“Existe uma Teoria do Direito, que não é uma teoria do poder, com palpites do autor. O direito é o lugar preferido dos relativistas. É fácil dizer que é preciso dar metade da herança para a amante, mesmo que isso não esteja na lei. Porque isso é simpático. Mas esquecemos que alguém ficou sem essa metade. Existem mínimas garantias legais que temos de obedecer. A lei não é plenipotenciária, mas também não pode ser o que qualquer um que ela seja”, declarou. E, atiçando os defensores do relativismo, sugeriu: “Se você é relativista, quando estiver atravessando a rua e um ônibus vier em sua direção diga que não é um ônibus. Claro, pois se você é relativista. Seja coerente!”, provocou.

O jurista também divertiu os presentes ao falar da banalização do ensino jurídico. “Se estivéssemos na mesa de operação e soubéssemos que cirurgião obteve seu conhecimento de um livro com o resumo mastigado da cirurgia ficaríamos em pânico. Por que para garantir um habeas corpus pode o desconhecimento?”, questionou.

Para ilustrar o valor dos princípios inegociáveis, o jurista citou o exemplo do aeroporto. Ninguém pode deixar de passar pelo Raio-X porque prevalece o princípio da segurança do voo, lembrou. “Se os juristas não lutarem por critérios, não teremos mais direito”, pontuou antes de levar a plateia ao delírio ao listar manchetes da mídia e discussões dos passageiros sobreviventes em um eventual naufrágio de um navio com toda a classe jurídica. “Antes de concluírem a longa discussão sobre quem seria comido primeiro, um tubarão devoraria todos no bote salva-vidas. Sabem por quê? Porque tubarão não tem critérios!”, afirmou.

A VI Conferência segue com 20 painéis distribuídos ao longo desta quinta e sexta-feiras, 3 de 4 de agosto. Confira aqui a programação. Ao fim da conferência, um coquetel com show do grupo Monobloco reunirá os advogados no Clube Curitibano, que também comemorarão antecipadamente o Dia do Advogado.