Na posse da OAB Umuarama, juiz destaca harmonia entre advocacia e magistratura

Confira o discurso do juiz Marcelo Pimentel Bertasso, proferido na solenidade de posse da nova diretoria da OAB Umuarama, realizada na noite de sexta-feira (15/2):

Excelentíssimo Senhor Cássio Lisandro Telles, digníssimo Presidente do Conselho Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, na pessoa de Vossa Excelência saúdo todos os presentes, em especial os nobres advogados, que nos recebem nesta ocasião especial.

Meus caros colegas magistrados, advogados, Promotores de Justiça, prezadas autoridades, senhoras e senhores presentes, desejo a todos uma boa-noite.

Gostaria de agradecer, de saída, pelo convite e pela deferência na concessão da palavra em um momento tão importante para a advocacia. É para mim uma honra e uma enorme satisfação poder privar do convívio de todos os nobres advogados, sempre gentis e acolhedores, e, em especial, de ter uma relação tão amistosa com aqueles que participam da gestão da Ordem dos Advogados do Brasil de Umuarama.

E essa relação próxima me permite iniciar minha fala fazendo uma breve homenagem aos ilustres dirigentes da OAB local. Inicio saudando o Dr. Aldo Henrique Alves, que hoje encerra seu mandato e o faz entregando um trabalho marcado pela dedicação, seriedade e competência.

Sou testemunha dos esforços do Dr. Aldo na luta pelos interesses da advocacia. Foram várias as vezes em que o recebi para tratar de assuntos relacionados à classe, e sempre o Dr. Aldo se mostrou uma pessoa preocupada e comprometida a valorização da advocacia. Seu trabalho marcante é merecedor de elogios e tenho convicção de que esses predicados se repetirão na nova função a ser desempenhada junto ao Conselho Estadual, na companhia da Dra. Érica Kovalechen, de quem tenho a alegria de ser amigo pessoal e, assim, testemunhar toda a paixão que tem por essa nobre profissão.

Também quero congratular o Dr. Ricardo Janeiro, novo presidente da subseção, pela eleição, desejando votos de uma gestão profícua. Os 13 anos de convívio profissional que temos me dão plena convicção de que a advocacia estará bem representada em suas mãos, pois trata-se igualmente de uma pessoa séria, comprometida, trabalhadora e competente, que muito já fez pela classe e continuará a fazê-lo brilhantemente na presidência.

Faço os mesmos votos a todos os membros da nova diretoria, todos admirados advogados e advogadas, dentre os quais vários amigos pessoais meus, que bem desempenharão o papel de representantes de seus pares.

É realmente uma enorme honra ser escolhido pelos colegas, por aqueles que passam pelas mesmas situações que nós, que encaram os mesmos desafios, para representá-los. Essa escolha mostra que Vossas Excelências, os novos dirigentes, tiveram atuação destacada a ponto de dar a seus pares a confiança de entregar os rumos da advocacia em suas mãos. Tenho a absoluta certeza de que esse reconhecimento é merecido e que suas tarefas serão desempenhadas com louvor.

Feitas essas homenagens iniciais, Sr. Presidente, gostaria de utilizar o restante do tempo que me foi concedido para uma homenagem ainda mais especial.

Carrego comigo uma certa frustração profissional: jamais advoguei. Desde os tempos da faculdade, passei a trabalhar como servidor do Poder Judiciário e, sempre buscando ser Juiz, optei por não me dedicar à advocacia, seguindo nas carreiras públicas.

Mas esses 17 anos de trabalho dentro do Fórum me permitiram ser um espectador atento dessa carreira tão especial que é a advocacia, gerando em mim uma sincera admiração pelo que vocês fazem.

Sim, permitam-me chamá-los de vocês neste momento, porque os anos de espectador de suas atividades tornaram-me íntimo a ponto de considerá-los como amigos próximos.

Com vocês aprendi e aprendo diariamente sobre o Direito e a vida.

Vejo, no Fórum, garotos e garotas, recém-formados, até ontem nossos estagiários e alunos, e que hoje abraçaram a advocacia, abriram seus escritórios e estão lá fora, no mercado, lutando por seu espaço, pela sobrevivência digna a partir da defesa do Direito. Vejo-os batalhando para conseguir pagar as contas do escritório, para angariar clientes, buscando oportunidades. E, com eles, aprendo sobre coragem. Afinal, é preciso muita coragem para encarar o desafio de advogar.

Da minha sala de audiências, assisto quando esses jovens vão fazer audiências, ainda inseguros, muitas vezes como correspondentes de escritórios da capital, por vezes recebendo 50, até 30 reais pela diligência.

Nesse momento, lamento que eles tenham de se submeter a esses valores, e lamento mais ainda que quem os submete a essa situação são escritórios renomados, de grandes profissionais, de quem se esperaria mais pela valorização da carreira.

Mas, é nessas ocasiões que minha admiração cresce e aprendo ainda mais com vocês, advogados e advogadas. Aprendo sobre garra, porque esses garotos e essas garotas chegam para a audiência sem qualquer vergonha de estar trabalhando por tão pouco mas, ao contrário, mostrando que eles estão aí para a luta diária, e se o que tem para aquele dia é a diligência que paga pouco, eles agarram a oportunidade sem reclamar, afinal, todos começamos um dia e no começo, todo trabalho é bem vindo. Esses advogados, como disse, me ensinam sobre garra: sem ela, não há carreira que floresça.

Aprendo também sobre amor à profissão, porque esses advogados e advogadas, que recebem seus 50 reais pela diligência, chegam para a audiência felizes e atuam naquele ato como se estivessem defendendo a causa mais importante de suas vidas, pouco se importando com o que recebem, mas, sim, com a função que estão exercendo. Afinal, para ser advogado é preciso ter amor pelo Direito, acima do amor pelo dinheiro.

No Fórum vejo também aquele advogado que trabalha sozinho, num pequeno escritório, e assume uma causa polêmica, defendendo um criminoso notório. E, sozinho, faz seu trabalho tendo por oponente o Estado, com uma estrutura muito maior e mais poderosa, numa luta de Davi e Golias. E o advogado solitário encara essa luta de frente, não importando a quem tenha de contrariar, comprometido apenas com uma coisa: defender seu cliente. E ali aprendo sobre ousadia: sem ousadia não se advoga.

E acho graça quando recebo a visita do advogado que foi constituído ali, naquela semana, numa execução milionária que tramita há anos, e que já tem leilão marcado para o dia seguinte. E esse advogado, que pegou o processo já no final, sem nada a fazer, me procura representando seu cliente, que o contratou com a plena convicção de que ele dará um jeito, como se mágico fosse. E esse advogado, mesmo sabendo que a situação é difícil, tenta de tudo, inventa novas teses, e por vezes até obtém êxito. Ali aprendo sobre criatividade: é impossível advogar sem ela.

Incomodo-me, por vezes, quando vejo os advogados, todos os dias, esperando. Esperam para serem atendidos pelo cartório; esperam para falar com o juiz, esperam para serem atendidos em órgãos públicos. A advocacia por vezes parece um esperar sem fim – e confesso que fico extremamente constrangido quando faço vocês esperarem. E, apesar da espera, os advogados seguem ali, dia após dia, aguardando, mas insistindo, ensinando-me sobre paciência e resiliência.

Quase todos os dias, recebo em meu gabinete, advogados que pretendem expor argumentos ou pedir para que determinado processo seja despachado logo. São sempre cordiais e educados e tento tratá-los da mesma forma. Mas admiro, porque eles pedem, e depois agradecem pelo simples fato de terem sido atendidos, como se eu estivesse a fazer um favor a eles, quando, na verdade, são eles que estão exercendo um direito – eu faço apenas meu dever, e o faço com gosto, confesso. E aqui eu aprendo sobre humildade.

Posso, ainda, passar horas a fio a ver o tribuno do júri, no plenário, defendendo seu cliente com unhas e dentes, fazendo sua peroração com domínio das palavras, fazendo da oratória uma arte, como se soubesse a fórmula para hipnotizar os ouvintes e fazê-los absorver aqueles argumentos por longo tempo sem se cansar ou desviar a atenção. Nesses momentos, aprendo sobre talento.

Mas o maior aprendizado é com os antigos. Devo confessar minha enorme admiração pelos advogados antigos, aqueles com mais tempo de Fórum do que eu de vida, que já viram e atuaram em de tudo um pouco.

Não obstante seu vastíssimo conhecimento, sua cultura invejável, eles chegam a meu gabinete, quietos, discretos. Falam comigo – eu, que ainda usava fraldas quando eles já faziam sustentações orais – com respeito quase litúrgico. Começam a expor seus argumentos com tanta modéstia que parecem encarnar a lição de Calamandrei: “O advogado deve sugerir por forma tão discreta os argumentos que lhe dão razão, que deixe ao juiz a convicção de que foi ele próprio quem os descobriu”.

Com esses mestres da advocacia, aprendo sobre sabedoria.

E assim, nos dias e dias de fórum, vejo vocês, advogados, chegando e saindo, e vou aprendendo e captando virtudes.

É claro que isso não quer dizer que tudo são flores: maçãs podres são um mal de todas as profissões e qualquer carreira tem alguns poucos que não a honram.

Porém, numa noite festiva como esta, não nos é dado apontar defeitos de alguns poucos que não honram a beca, mas sim exaltar as virtudes da esmagadora maioria de bons advogados, que trabalham com zelo e afinco na defesa dos interesses de seus constituintes e assim dignificam a advocacia.

O fato é, meus estimados amigos advogados, que termino minha fala homenageando vocês, que diariamente me ensinam e me inspiram a também ser eu um profissional melhor e alguém que possa cultivar virtudes.

Copiando novamente Calamandrei, devo dizer que vocês, advogados, vistos por um juiz, formam uma imagem de honradez, garra, coragem e humildade.

E tenho a absoluta certeza de que hoje, os advogados que tomam posse nesta subseção representarão com enorme competência essa carreira tão bela e virtuosa.

Saibam, finalmente, que lá, em meu cantinho no fórum, vocês têm um admirador, assistindo suas atuações, aprendendo todos os dias e que estará sempre à disposição para auxiliá-los na luta diária de todos nós pelo Direito. Contem comigo.

Um grande abraço a todos. Muito obrigado!

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