“Tudo o que não puder contar como fez, não faça”, disse Cortella, citando Kant, em palestra da OAB Maringá

A ética e sua aplicação cotidiana estiveram em pauta na OAB Maringá nesta quarta-feira (19/8). A palestra online do filósofo e professor Mario Sérgio Cortella, transmitida pelo Youtube da subseção, integrou a programação do mês dedicado a celebrar a advocacia. Centenas de profissionais acompanharam a apresentação do renomado palestrante, que teve como tema “Ética não é cosmética”.

Para a presidente da OAB Maringá, Ana Cláudia Pirajá Bandeira, as palavras do filósofo foram “gotas de sabedoria, muito necessárias nesses tempos que estamos vivendo” e ajudaram a advocacia a exercer ainda melhor seu papel como voz dos cidadãos. No início da transmissão, o presidente da OAB Paraná, Cássio Telles, ressaltou a pertinência do tema para a classe. “Saúdo todos os que nos acompanham nesta noite festiva, recebendo o nosso amigo paranaense, que é filósofo, escritor e educador. Temos orgulho de que seja aqui do Paraná. O professor Cortella lida muito com relações interpessoais e falará sobre a ética, um tema muito caro à advocacia”, disse.

Cortella valeu-se de uma experiência de sua filha, que é advogada criminalista, para destacar a diferença entre paciência e lentidão. “Certa vez,  quando ela tinha 27 anos, me telefonou na iminência de uma sustentação oral numa corte superior, perguntando como fazer para se sentir mais segura para a missão. Aconselhei: espere 30 anos”, contou. Cortella fez também relatos da vida do pai, gerente de banco, para destacar que ética não deve ser um adereço estético, mas um traço de caráter a ser manifestado cotidianamente. Tomando por base a concepção de Immanuel Kant, ele sugeriu, como parâmetro de aplicação da ética, a seguinte máxima: “tudo o que não puder contar como foi feito, não faça”.

A qualquer tempo

Na visão do filósofo, as dificuldades próprias de cada etapa da vida não podem ser invocadas para que se deixe os princípios de lado. “A pandemia não é desculpa para transigir; a ética não foi exilada, não está colocada à margem enquanto passamos por esta encrenca”, observou. Para ele, se dá justamente o contrário. “Nestas horas é que precisamos nos valer ainda mais da ética para não resvalarmos no ´salve-se quem puder´”, completou. Em outro momento, Cortella rechaçou o relativismo e ressaltou a importância das instituições. “Democracia não é ausência de ordem; democracia é ausência de opressão”, pontuou.

A vice-presidente da OAB Paraná, Marilena Winter, saudou a audiência, os colegas e o palestrante. “É uma honra estar aqui na primeira fila para ouvir seus ensinamentos. Vivemos um tempo em que temos a missão de construir uma democracia no nosso país, o que não é fácil até que encontremos o rumo correto. E na internet vemos um grande espaço democrático para expor ideias e fazer interlocuções”, mencionou antes de apresentar ao palestrante uma questão própria dos tempos em que vivemos: “Como situar-se entre as liberdades individuais e o limite ético para que não se extrapole?”, perguntou. Cortella, em seguida, indicou a importância de que separemos opiniões de acusações. “Vamos pouco a pouco acertando esses passos. Eles são muito novos para nós, começamos a lidar com redes sociais há 15 anos. O que não podemos, enquanto aprendemos, é achar que vale qualquer coisa. Nessa hora o direito precisa estar presente para impedir que haja uso sem abuso”, recomendou.

Além de Ana Cláudia Pirajá Bandeira, de Marilena Winter e de Cássio Telles; tomaram parte na transmissão o secretário-geral da OAB Maringá, Everton Caldeira; a secretária-geral adjunta, Sheyla Souza Borges de Liz; o diretor tesoureiro, Eder Fabrilo, o presidente do Conselho de Ética, Marcelo Tavares, e ainda as advogadas Mônica Concianci e Priscila Canonio, que integraram a comissão organizadora do evento.

Com informações da OAB Maringá.