Mulheres Pioneiras – Walkyria Naked, uma advogada à frente do seu tempo

Numa das iniciativas para marcar o Mês da Mulher, a OAB Paraná dá início a uma série de matérias sobre o pioneirismo feminino em quatro profissões: advocacia, medicina, engenharia e jornalismo. Os textos, que serão publicados semanalmente a partir do dia 8 de março, contam sobre as mulheres paranaenses que conquistaram seu lugar na história por terem superado barreiras culturais e semeado a paridade de gênero em suas esferas profissionais. Foi assim com a advogada Walkyria Moreira da Silva Naked, a médica Maria Falce de Macedo, a engenheira Enedina Alves Marques e as jornalistas Rosy de Sá Cardoso e Sonia Nassar.

Walkyria Naked, uma advogada à frente do seu tempo

Passaram-se 90 anos até que a paridade de gênero chegasse aos quadros da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil, possibilitando a eleição de Marilena Winter, a primeira mulher a presidir a seccional. Mas essa semente, que demorou quase um século para dar frutos, foi plantada logo nos primeiros momentos de existência da OAB Paraná.

Com inscrição nº 99, Walkyria Moreira da Silva Naked foi a única mulher a figurar no grupo dos 127 primeiros inscritos na recém-criada seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil. Certamente foi também uma das pioneiras de todo o Brasil, uma das poucas a seguir o exemplo de Myrthes Gomes de Campos, do Rio de Janeira, a primeira advogada atuante no país.

Ambas fizeram parte do restrito grupo de mulheres que, nos primeiros anos do século 20, ultrapassou a barreira do preconceito, ingressando num reduto que durante décadas foi dominado pelos homens. Nascida na cidade paulista de Tatuí, Walkyria formou-se aos 23 anos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Casou-se com o Sagy Naked, filho de família sírio-libanesa de Prudentópolis que escolheu a capital paulista para realizar seus estudos de Direito.

Ativismo político

O casal passou a residir Prudentópolis, e manteve-se engajado politicamente aos ideais aliancistas de Getúlio Vargas. Por seu ativismo político e ideias feministas, Walkyria foi presa pela polícia e o seu marido foi morto durante um tiroteio enquanto tentava resgatar a esposa, tirando-a da delegacia. Durante o tiroteio, Walkyria saiu ferida e fugiu para Ponta Grossa.

Há outra versão para essa história – a de que Sagy teria sido vítima de uma emboscada e que Walkyria saiu em seu socorro quando também foi ferida. Mas de qualquer forma, a perseguição ao casal Naked foi um dos muitos abusos cometidos para conter o avanço da Aliança Liberal contra o governo de Washington Luís (1927-2930), marcando definitivamente a história daquela região.

Walkyria Naked se apoiou no firme propósito de obter a prisão dos responsáveis pela morte do marido. Ao mesmo tempo, organizou um movimento a favor das forças revolucionárias. Liderou equipes médicas e serviços da Cruz Vermelha, reunindo ambulâncias e medicamentos para servir aos aliancistas.

Seis meses depois as forças getulistas saíram vitoriosas. Em sua passagem por Ponta Grossa, ainda quando se preparava para assumir a presidência, Getúlio Vargas ofereceu a Walkyria o cargo de interventora federal do Paraná, mas ela recusou e pediu para ser nomeada promotora com o intuito de responsabilizar os envolvidos pela morte do marido. Foi assim que ela se tornou a primeira promotora de justiça do Ministério Público do Paraná, função que exerceu por menos de um mês. O processo se arrastou por mais alguns anos, até que o principal acusado, o chefe de polícia da comarca, foi inocentado.

Luta feminista

Um episódio inusitado em sua trajetória, ainda antes da morte de seu marido, foi o requerimento de porte de armas endereçado à chefatura de polícia da localidade. O pedido foi feito em nome de Walkyrio Moreira da Silva Naked, porém, na verdade, a advogada escondeu o seu gênero na tentativa de obter o direito de andar armada.

Consta nos registros da OAB Paraná que sua inscrição na seccional foi cancelada em 10 de outubro de 1939 por motivo de transferência para a seccional de São Paulo.   Não há registros, tanto na OAB Paraná como na OAB São Paulo, de outras informações, inclusive do local e da data do seu falecimento.

Walkyria Naked é descrita pelo historiador, juiz aposentado e ex-prefeito de Prudentópolis, Josué Corrêa Fernandes, como “uma mulher à frente do seu tempo”. Esteve diretamente engajada na luta feminista e principalmente pelo direito das mulheres ao voto.

“Dra. Walkyria, poliglota, filha do paulista Antônio Moreira da Silva, republicano de primeira hora e signatário da Constituição Federal de 1891, embora residisse em Prudentópolis, guardava fortes laços com São Paulo, onde ocupou a presidência da “Liga Paulista pelo Progresso Feminino” e da “Aliança Paulista pelo Sufrágio Feminino”, fazendo parte também do “Triunvirato Brasileiro das Mulheres Ilustradas” e da “Liga Universal pelo Progresso Feminino Americano e Europeu”, descreve Corrêa Fernandes.