OAB Paraná realiza Diálogos sobre a Violência com diversos atores da sociedade

A OAB Paraná realizou na quinta-feira (24) o primeiro encontro do Diálogos sobre a Violência.  O evento reuniu profissionais de diversas áreas e representantes da sociedade civil para compartilharem suas vivências e desafios, e criarem pontes para refletir sobre alternativas para o tema que desafia a todos cidadãos. A conversa foi conduzida pela vice-presidente da OAB Paraná, Marilena Winter, e contou com uma exposição inicial do jornalista José Carlos Fernandes.

Ao abrir o evento, Marilena contou aos presentes como surgiu ideia de realizar um encontro que traga diferentes vozes e visões sobre a questão da violência, para que juntos, possam reunir novos olhares. Ela explicou que a ideia de começar a conversa por um jornalista tem como objetivo trazer um olhar que muitas vezes impacta a sociedade e ao mesmo tempo também reflete o que acontece nas relações. Marilena também leu um trecho do livro Tempos Sombrios, de Hannah Arendt.

Ao fazer as colocações iniciais, José Carlos, que é colunista do jornal Gazeta do Povo, onde também foi repórter por 27 anos, contou um pouco sobre a história jornalismo, como ocorriam e ainda ocorrem as coberturas de algumas pautas relacionadas ao crime. Ele diferenciou a cobertura policial – voltada à descrição dos atos violentos e com estereótipos bem definidos para as partes envolvidas – , da cobertura de segurança pública – que propõe uma análise do contexto e de diversos fatores que levam à violência.

“A imprensa também é parte do problema da violência”, reconheceu o jornalista, que é doutor em literatura e professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “O jornalista é um observador privilegiado e a cobertura policial traz uma cultura tão antiga quanto o jornalismo moderno”, pontuou.

Após a exposição inicial de José Carlos, os presentes tiveram a oportunidade de compartilhar suas impressões, dividir experiência. Pessoas que atuam na área da segurança pública, em movimentos sociais e em entidades públicas, compartilharam seus diferentes olhares. A questão de gênero foi uma das mais mencionadas, assim como discriminação por questões de raça ou sociais.

Ao finalizar os debates, a vice-presidente da OAB Paraná, explicou que, a partir das diversas questões expostas, pretende-se definir tópicos singulares para futuros encontros. E, com a continuidade do diálogo, o objetivo é traçar ações conjuntas e também responder, entre outras questões, à seguinte: “Há algo que possamos fazer enquanto advogados?”, ponderou Marilena.

 

Veja quem foram os participantes do Diálogos sobre a Violência:

Adão Aparecido Xavier Professor – rede estadual
Aline Peres Jornalista
Amanda Vaz União Brasileira de Mulheres
Andreia Vitor Comissão Igualdade Racial
Bernardo Rucker Comissão de Direitos do Idoso (secretário)
Carmem Ribeiro Rede Feminina de Saúde
Carmen Iris Nicolodi Com. Assuntos Culturais
Daniele Biondo Fundação Museu do Futuro
Demetrius Oliveira Delegado
Eduardo Titão 1º Tenente da PM-PR
Edvana Venturin Comissão da Mulher Advogada
Gabriel Bittencourt Acadêmico de direito
Gustavo Janiszewski Comissão Vítimas de Crime
Helena de Souza Rocha

 

Comissão de Estudos de Violência de Gênero – Cevige (presidente)
Iolanda Gomes CAA-PR
Jimena Grignani Grupo Marista
José Carlos Fernandes Jornalista, professor UFPR
Juliana Chagas da Silva Mittelbach Rede de Mulheres Negras
Karollina Nascimento Transgrupo Marcela Prado
Luiz Carlos Hauer Comissão de Políticas sobre Drogas
Maria Cristina dos Santos Psicóloga
Maria Nysia Delegada
Maria Cristina Antunes Psicóloga – Universidade Tuiuti do Paraná
Marilena Winter Vice-presidente
Maurício Barcelo Instituto GT3
Monica Azevedo Procuradora de Justiça
Nilton Ribeiro Comissão Direitos Humanos
Rodrigo Rios Secretário-geral
Sandra Lia Bazzo Barwinski Cevige (vice-presidente)
Silvana Oliveira CAA-PR
Sílvia Carneiro Leão Comissão da Criança e do Adolescente
Tarcila Santos Teixeira Promotora
Tatiana S. Manzochi Comissão de Direito Desportivo
Valéria Padovani Delegada
Valdirene Pinheiro Comissão dos Advogados das Estatatais
Caroline H. Frota
Heloisa Zerbeto
Sandra Mara de Al.R.

 

Participações

"O que inibe o crime é a igualdade social. E também precisamos divulgar o Estatuto da Criança e do Adolescente, que é a base onde se deve atuar "- Valéria Padovani, delegada da Polícia Civil

"O produto crime ainda se vende muito." - Gustavo Janiszewski, membro da Comissão de Apoio às Vítimas de Crime.

“Apenas 1% dos crimes contra o idoso são denunciados. E os principais agressores são genros, noras, filhos e filhas.”- Bernardo Ruker, secretário da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa

“Violência dá medo, você pode até sofrer quando começa a debater o tema. Não adianta escola bonita e pintada, se o aluno não pode falar.” - Adão Aparecido Xavier, professor da rede estadual de ensino, na Escola Helena Kolody, em Colombo

“Que sociedade é essa? Estamos aqui debatendo um tema corriqueiro para uns, necessário para outros. Violência racial, de gênero, econômica, contra pessoa em situação de rua, bullying... Tudo isso acaba por envolver a todos, mas os que mais sentem estão invisibilizados, especialmente as pessoas negras. Se deixarmos o carro em casa e pegarmos um ônibus em direção aos bairros mais distantes, vamos ver onde essas pessoas estão”- Silvana Cristina De Oliveira Niemczewski, secretária-geral adjunta da Caixa de Assistência dos Advogados do Paraná

"Profissionais de saúde se comovem de maneira diferente se é um negro ou um branco que tomou um tiro. Há tipos de violência que não são vistas na sociedade" - Juliana Chagas Mittelbach, da Rede de Mulheres Negras e enfermeira

“A pauta da imprensa acaba reforçando um estereótipo, MP e segurança pública tentam achar justificativa para a morte ou para a violência, como o ciúme, o inconformismo com o fim da relação, são novos nomes para o antigo ‘crime passional’. Mas a gente sabe que a base é a discriminação de gênero"- Helena Rocha, presidente da Comissão de Estudos de Violência de Gênero (Cevige)

"Podemos, em nossos espaços de poder, realizar ações de humanização, trazer as pessoas e olhar para elas" Daniele Biondo Crocetti, advogada e presidente da organização Museu do Futuro

“Por trabalhar bastante com violência doméstica, percebo que o grande problema é a violência que ainda não é crime, perpetuada em relações de poder. A narrativa de muitas mulheres ainda não se encaixa em nenhum dos tipos de crime. Elas não conseguem verbalizar e não estão empoderadas para dizer que está sofrendo machismo."- Maria Nysa, delegada da Polícia Civil

“Muitas vezes são as informações da área da saúde que dão subsídios às políticas públicas voltadas à questão da violência.”- Carmen Regina Ribeiro, da Rede Feminina de Saúde, uma das responsáveis pela criação do programa de atendimento às vítimas de violência sexual, em 1998

“Não dá para falar em paz se não problematizarmos a nossa cultura. 57% das mães que criam filhos sozinhas no Brasil vivem na pobreza. Isso é violência estruturante”- Sandra Lia Barwinski, vice-presidente da Cevige e co-coordenadora do Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher - CLADEM/Brasil

“As pessoas transexuais têm expectativa de vida entre 29 e 30 anos. Nós morremos apenas por ser quem somos. Somos exterminadas por sermos o que queremos ser.” - Karollina Nascimento, do Transgrupo Marcela Prado

“Me preocupa muito dizer que a violência contra a mulher está diminuindo. Dados que demonstram uma leve redução na violência conta mulheres brancas, enquanto contra mulheres negras cresceu 15%.” - Andreia Vitor, presidente da Comissão de Igualdade Racial

“Gostaria de refletir sobre questões culturais, que são um sintoma da desigualdade na sociedade, como os textos e denominações que designam a mulher pelo primeiro nome e o homem pelo sobrenome.” - Amanda Vaz, da União Brasileira de Mulheres

“Informação não muda comportamento, mas é um passo importantíssimo para se pensar como se articular para quebrar esse ciclo.” - Maria Cristina dos Santos, psicóloga.

“É muito positivo que pessoas com diferentes histórias se debrucem sobre o tema. Temos presenciado avanços no sistema carcerário, atendendo a uma população que é imputada como responsável por violências, mas que também sofre violências.”- Nilton Ribeiro, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB Paraná