OAB Paraná terá Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil

A OAB Paraná irá instalar a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil. O anúncio foi feito pelo presidente da OAB Paraná, José Augusto Araújo de Noronha, na segunda-feira (22), durante a exibição do documentário “Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil”. O evento realizado pela Comissão da Igualdade Racial debateu medidas para reparar a escravidão no país. O encontro contou com a presença do presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, Humberto Adami Santos Junior.

“O Brasil tem três chagas na sociedade contemporânea: a corrupção, as drogas e a discriminação. Em todas elas, a OAB tem um papel fundamental em procurar combater intransigentemente a corrupção, ajudar, no que for possível, a acabar com o problema das drogas e tratar deste tema tão importante que é a igualdade, que tem que haver entre todos nós para uma convivência harmônica. Sabemos que ainda existe a discriminação na nossa sociedade e temos feito tudo para que ela seja abolida”, sustentou Noronha.

A presidente da Comissão de Igualdade Racial Silvana Cristina Niemczewski enalteceu a importância do debate, conclamando os presentes a refletirem sobre o preconceito que ainda existe. “Ainda nos dias de hoje sofremos com o racismo, a discriminação.  É preciso debater e encontrar formas para que a reparação aconteça, porque tivemos a abolição, mas ela foi só no papel – ainda hoje temos trabalho escravo no Brasil, ainda existe a diferença salarial. Justamente com este diálogo vamos pensar em soluções”, afirmou. “Todos somos iguais, todos temos capacidade, só não temos o mesmo direito às oportunidades. Muitas vezes perdemos ao nascer com esta cor de pele”, pontuou Silvana.

A Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil foi criada pelo Conselho Federal da OAB em 2016, com o intuito de resgatar a história da escravidão negra. Atualmente está instalada em 15 seccionais. “Vamos buscar fatos, provas, pistas sobre a história da escravidão negra no Brasil, em locais que foram objeto de esquecimento. Com isso queremos comprovar o horror que foi e ajudar aquela parcela da população brasileira que não entende por que temos que ter ações afirmativas para a população negra”, explicou o advogado Humberto Adami Santos Junior.

“A ideia é falar em reparação da escravidão. As políticas de ação afirmativa são muito pequenas para apagar 350 anos de escravidão e 500 anos de uma desigualdade racial que vem desde o tempo da escravidão – posturas que se refletem hoje no racismo contemporâneo”, afirmou Santos Junior.

O documentário “Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil”, dirigido por Belisário Franca,  é fruto de investigações do historiador Sidney Aguilar sobre tijolos marcados com a suástica nazista encontrados no interior do Brasil. Ao iniciar a pesquisa, ele descobriu que os artefatos revelavam a história de 50 meninos órfãos e negros, que trabalharam durante anos em situação análoga à escravidão na fazenda do interior de São Paulo. O filme traz relatos de Aloizio Silva, o menino 23, que sobreviveu para contar a história.