Nossa saúde depende da biodiversidade, destaca agrônomo no Simpósio de Direito Ambiental

O agrônomo e professor Rubens Onofre Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), traçou um quadro alarmante na conferência “Agrotóxicos e a legislação brasileira: dos riscos à proteção da coletividade e do meio ambiente”, que abordou o consumo de agrotóxicos no Brasil e seus reflexos para o meio ambiente e a saúde humana no Simpósio de Direito Ambiental da OAB Paraná. Promovido pela Comissão de Direito Ambiental, o evento, aberto na terça-feira (26/6).

Nodari contou que durante sua graduação em agronomia fez experiências com transgenia. “No entanto, como recomendou Einstein, passei a pensar ao contrário. Hoje não sei se os conceitos de sustentabilidade e de biodiversidade vão prevalecer a tempo de salvar a humanidade. Me parece que para muitas espécies, sim; para o homem está cada vez mais distante”, apontou.

O especialista citou, como exemplo da má gestão ambiental pela humanidade, o fato de que o nitrogênio usado na agricultura está perdendo eficiência, o que exige quantidades cada vez maiores da substância. “A agricultura como fazemos hoje não é mais uma opção. A transgenia foi intensificada com o objetivo de resolver alguns problemas: elevar a produtividade e reduzir o volume de agrotóxicos. Dois de seus efeitos são as plantas resistentes a herbicidas e ainda a liberação, pelos vegetais, de toxinas que repelem os insetos. As duas coisas têm consequências dramáticas para a saúde humana”, explicou.

Mais agrotóxicos

De acordo com o professor, o Brasil, com a liberação dos transgênicos, duplicou o uso do agrotóxico, o que por sinal é tendência no mundo todo. “No entanto, não há diferença de produtividade entre o milho com melhoramento convencional e com transgênico. Aliás, a Embrapa adverte que o milho, alimento sagrado para os povos americanos, pode se tornar uma erva daninha dada a resistência proporcionada pela transgenia”, mencionou.

O conferencista fez alusão ao recado dado pela pesquisadora norte-americana Rachel Carson, que em 1962, abalada pelas constatações de estudos sobre os efeitos do DDT, escreveu o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa). Carson relatou que o DDT usado na agricultura atingia ursos polares, a milhares de quilômetros. No prefácio da obra, a cientista afirmou que o homem havia perdido a capacidade de prever as consequências de seus atos e que, por isso, acabaria se destruindo

O pensamento de Rachel Carson, afirmou o professor Nodari, parece cada vez mais um prognóstico. Segundo ele, todas as análises de água que tem visto indicam a presença de agrotóxicos. O DDT, citou, está presente na água de uma cidade catarinense, embora o produto tenha sido banido há mais de duas décadas. Nodari mencionou ainda que a neutralização do princípio ativo é de R$ 0,07 por litro de água.

Saúde em risco

O preço do uso desenfreado dos agrotóxicos é a saúde humana. “Temos dados científicos robustos para sustentar que a exposição aos agrotóxicos eleva a probabilidade de desenvolver câncer. Os EUA, que já foram líderes mundiais em agrotóxicos, agora se preocupam com isso. Hoje quem lidera o uso de pesticidas na agricultura é o Brasil. Além de câncer, o agrotóxico causa outros males. Há uma universidade norte-americana pesquisando a relação entre pesticidas e autismo.

Outro efeito dramático de uma agricultura baseada em transgenia e dependente de agrotóxicos é o declínio dos polinizadores. Todavia, todas as culturas, com exceção das que fazem autofecundação, dependem em algum grau da polinização. “Há mais de 2 mil espécies de abelhas que garantem a nossa biodiversidade, mas elas estão sendo afetadas pela liberação de toxinas que repelem insetos. Abelhas expostas ao pólen de milho transgênico perdem seu padrão de comportamento, vital para a polinização. Portanto, o biodiversidade está em risco. E nossa saúde depende da biodiverisade”, destacou.

Sem contraditório

O professor também apontou como problemática a falta de acesso aos estudos de transgenia e de uso de pesticidas. “Só os proponentes têm acesso a esses estudos. Portanto, falta o contraditório, algo tão caro à advocacia. E sem contrário o que faz a agência reguladora? Aprova. Essa é uma grande perversidade do sistema”, afirmou.

Para evitar a autodestruição, considera o especialista, a espécie humana só tem uma chance: produzir alimentos sem resíduos químicos, com base em princípios agroecológicos para o manejo da água, para a acumulação de matéria orgânica e outros. “Estamos acostumados com a uniformidade da agricultura extensiva. Contudo, isso é ruim para todo mundo”, sentenciou.

O Simpósio de Direito Ambiental segue até o fim desta quinta-feira (26/6). A palestra magna de encerramento, às 19h30, será feita pelo professor Paulo Affonso Leme Machado, professor titular da Universidade Metodista de Piracicaba com mestrado em Direito Ambiental pela Universidade Robert Schuman de Estrasburgo, na França.